Ele sobe em grades, lamenta seus entes queridos à distância, aceita suas falhas em plena luz do dia, sonha em se tornar presidente da Confederação Brasileira de Padel e terminar seus dias entre as vacas. Lucas Campagnolo, um dos músicos mais queridos do circuito, entregou em Podcast de Energia uma entrevista de coração para coração.
Em um mundo onde a performance muitas vezes mascara o elemento humano, “Campa” quebra o silêncio. Sacrifícios familiares, lágrimas no vestiário, ferimento, separação dolorosa de Javi Garrido, de volta às raízes, projetos para o Brasil :tudo vale. Sem filtro, sem linguagem de madeira.
Esta é a história de um jogador para quem a derrota não é uma tragédia, mas uma passagem. De um homem que nunca esqueceu de onde veio. E quem, entre dois torneios, só sonha com um campo, um cachorro e um pouco de paz.
A criança de Alegrete, entre o padel, o futebol e o campo
Nasceu em Alegrete, no sul do Brasil, Lucas Campagnolo relata com ternura seus primeiros anos em um mundo compartilhado entre esporte e natureza.
“Minha infância foi assim: ir ao clube com meus pais para não ficar sozinho em casa. E eu me apaixonei imediatamente por esportes. Padel, futebol e, principalmente, a vida no campo sempre foram minha paixão. »
Na década de 2000, o padel se desenvolveu no sul do Brasil graças à influência dos países vizinhos. Lucas se envolveu nisso desde muito cedo, mas já sentia que seu caminho não seria linear.
O grande salto: da veterinária para a Espanha
A mudança ocorre em 2014, após uma partida muito disputada contra Juan Tello nos Jogos Pan-Americanos.
“O Juan me convidou para passar três meses na Espanha. Não éramos ninguém na época, mas viemos para brincar. Depois disso, voltei para o Brasil para estudar veterinária.”
O retorno é difícil. O sonho do padel continua presente, mas ele não tem documentos, nem segurança. Ele tentou a sorte novamente em 2015, com Lucas Cunha, depois em 2016 com Lucas Bergamini.
"Eu pensei que o padel seria um hobby. Meu futuro era voltar para a minha cidade, viver no campo e trabalhar com animais."
Mas tudo muda no Campeonato do Mundo em Cascais. Campagnolo brilha com isso Júlio César Julianoti (conhecido principalmente por tocar no APT na época) Padel Torre). Martín Di Nenno, então ferido, se ofereceu para se juntar a ele.
Perguntei aos meus pais: devo ir ou não? Eles me disseram: Lucas, tente. Você não tem nada a perder. E é isso, estou na Espanha há 9 anos.
A aventura com Bergamini: mais que uma dupla
Com Lucas Bergamini, eles formam uma das duplas mais populares do circuito.
O que eu lembro não são os títulos. Poderíamos ter perdido na primeira fase ou vencido um torneio, era a mesma coisa. O que importava era que estávamos lá, juntos, dormindo em um quartinho. Eu na cama, ele em um colchão no chão.
Ele lembra dessa época como um momento fundador, quando as pessoas importavam mais do que as classificações.
“Tínhamos o mesmo sonho. Estávamos lado a lado. E levarei isso comigo para o resto da minha vida.”
Uma lesão que muda tudo
Gradualmente, a dor no quadril se torna insuportável.
"Eu terminava as partidas mancando, não me recuperava mais. As viagens de carro estavam me destruindo."
Ele tem que parar. Foi quando seu treinador Gabi Reca sugere que ele se mude de jogador da esquerda para o jogador da direita.
A Gabi me disse: você vai correr menos, vai ter menos impacto. E eu te vejo melhor na direita do que na esquerda. Eu tentei. E acho que foi na direita que joguei meu melhor padel.
é com Javi Garrido que ele está vivendo seu melhor período.
O caso da grade de Valladolid
Um dos momentos mais memoráveis de sua carreira continua Valladolid. Ele comemora um ponto subindo na grade... e se machuca.
“Eu estava no auge da minha carreira. Estava prestes a chegar ao top 8. E por causa dessa lesão, perdi tudo.”
Mas o que mais o afetou foram as redes sociais:
Li alguns comentários horríveis. Minha esposa me disse: Lucas, largue esse telefone, está te machucando. Desde aquele dia, nunca mais subi em uma cerca.
Redes sociais: dupla incriminação
Campagnolo fala sobre sua dificuldade em lidar com críticas.
Você pode receber 10 comentários positivos. Só existe um negativo, e é esse que você lembra.
Ele admite que se pudesse apagar as redes sociais para todo mundo por uma semana, ele o faria.
“Nós nos preocupamos demais com a vida dos outros. Esquecemos de olhar para quem está ao nosso lado.”
A separação de Garrido: uma separação difícil de digerir
Ele retorna à altamente divulgada separação com Garrido.
Reagi imediatamente nas redes sociais. Deveria ter guardado isso para mim. Mas essa é a minha natureza. Sou assim. E se eu estivesse no lugar dele, talvez tivesse feito o mesmo.
Ele explica que o padel mudou, que o separações rápidas tornaram-se comuns.
Hoje, estamos trocando de parceiros depois de dois torneios. Antes, falávamos sobre projetos, sobre equipes.
Uma filosofia de vida: autenticidade, simplicidade e lealdade
Campagnolo afirma ter uma vida longe do artifício.
Não estou fingindo. O que você vê é o que eu sou. Se estou com dor, isso transparece. Se estou feliz, eu demonstro. E jogo melhor quando estou com essa energia.
É isso também que ele procura em seus relacionamentos. Ele fala de sua imensa gratidão por Horacio Álvarez Clementi, seu primeiro mentor na Espanha.
Ele era como um pai. Me convidava para jantar na casa dele. Ele me ouvia, me aconselhava. Nunca poderei retribuir tudo o que ele fez por mim.
Um futuro no Brasil, no coração da terra
Lucas não esconde a intenção de voltar a morar em Alegrete, em sua fazenda.
“Meu sonho? Estar com minha esposa, meus cachorros, no silêncio do campo. O canto das vacas, dos galos. Nada mais. »
Ele também tem uma ambição clara: tornar-se presidente da Federação Brasileira de Padel.
Quero garantir que mais crianças tenham uma oportunidade real. Na minha época, assistir ao Pablo Lima treinar era como assistir a uma lenda intocável. Hoje, tudo é mais acessível e precisamos aproveitar.
A parte mais difícil: estar longe de quem você ama
Sinto falta de tudo: aniversários, Natais, feriados. Nem me lembro quando comemorei meu aniversário com meus pais. »
Seu apego à família é tão forte que, mesmo com um contrato lucrativo, ele estaria disposto a deixar tudo se sua esposa pedisse para ele voltar.
"Se ela me disser que já chega, que quer ir para casa, nós iremos. Dinheiro não é a coisa mais importante."

Franck Binisti descobriu o padel no Club des Pyramides em 2009 na região de Paris. Desde então, o padel faz parte da sua vida. Você costuma vê-lo viajando pela França para cobrir os principais eventos franceses de padel.